TRATADOS E FRONTEIRAS
Conforme sabemos, a atual configuração do
território brasileiro é bem diferente daquela que foi originalmente estipulada
pelo Tratado de Tordesilhas, em 1494. A explicação para a ampliação de nossos
territórios está atrelada a uma série de acontecimentos de ordem política,
econômica e social que, com passar do tempo, não mais poderiam ser suportadas
pelo acordo assinado entre Portugal e Espanha no final do século XV.
Um primeiro evento que permitiu a expansão
foi a União Ibérica, que entre 1580 e 1640 colocou as possessões lusas e
hispânicas sob controle de um mesmo governo. Nesse momento, a necessidade de se
respeitar fronteiras acabou sendo praticamente invalidada. Contudo, não podemos
pensar que o surgimento de novos focos de colonização se deu somente após esse
novo contexto.
Desde muito tempo, personagens do ambiente
colonial extrapolaram a Linha do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes saíram
da região paulista em busca de índios, drogas do sertão e pedras preciosas para
atender suas demandas econômicas. Ao mesmo tempo, cumprindo seu ideal
religioso, padres integrantes da Ordem de Jesus vagaram pelo território
formando reduções onde disseminavam o cristianismo entre as populações
indígenas.
Por outro lado, a criação de gado também
foi de fundamental importância na conquista desses novos territórios. O
interesse dos senhores de engenho e da metrópole em não ocupar as terras
litorâneas com a pecuária possibilitou que outras regiões fossem alvo dessa
crescente atividade econômica. Paralelamente, o próprio desenvolvimento da
economia mineradora também fundou áreas de domínio português para fora das
fronteiras originais.
Para que esses fenômenos espontâneos fossem
reconhecidos, autoridades portuguesas e espanholas se reuniram para criar novos
acordos fronteiriços. O primeiro foi firmado pelo Tratado de Utrecht, em 1713.
Segundo este documento, os espanhóis reconheciam o domínio português na colônia
de Sacramento. Insatisfeitos com a medida, os colonos de Buenos Aires fundaram
a cidade de Montevidéu. Logo em seguida, os lusitanos criaram o Forte do Rio
Grande, para garantir suas posses ao sul.
O Tratado de Madri, de 1750, seria criado
para oficialmente anular os ditames propostos pelo Tratado de Tordesilhas.
Segundo esse documento, o reconhecimento das fronteiras passaria a adotar o
princípio de utis possidetis. Isso significava que quem ocupasse primeiro uma
região teria seu direito de posse. Dessa forma, Portugal garantiu o controle
das regiões da Amazônia e do Mato Grosso. Contudo, os lusitanos abriram mão da
colônia de Sacramento pela região dos Sete Povos das Missões.
A medida incomodou os jesuítas e índios que
habitavam a região de Sete Povos. Entre 1753 e 1756, estes se voltaram contra a
dominação portuguesa em uma série de conflitos que marcaram as chamadas
“guerras guaraníticas”. Com isso, o Tratado de Madri foi anulado em 1761. Em
1777, o Tratado de Santo Idelfonso estabelecia que a Espanha ficasse com as
colônias de Sacramento e os Sete Povos. Em contrapartida, Portugal conquistou a
ilha de Santa Catarina e boa parte do Rio Grande do Sul.
Somente em 1801, a assinatura do Tratado de
Badajós deu fim aos conflitos e disputas envolvendo as nações ibéricas. De
acordo com seu texto, o novo acordo estabelecia que a Espanha abriria mão do
controle sobre os Sete Povos das Missões. Além disso, a região de Sacramento
seria definitivamente desocupada pelos lusitanos. Com isso, o projeto
inicialmente proposto pelo Tratado de Madri foi retomado.
FIQUE ESPERTO:
- Após a Restauração, não eram boas as relações
diplomáticas entre os reinos ibéricos, o que acarretou, entre os séculos XVII e
XIX, a assinatura de vários tratados que possibilitaram a consolidação das
fronteiras, ampliadas pela ação de bandeirantes e entradistas.
- Tratado de Lisboa (1681): A criação da Colônia do Sacramento
gerou grave descontentamento entre Espanha e Portugal.
- Tratado de Utrecht (1713-1715): No norte do país, a França aceitava o
rio Oiapoque como limite entre a Guiana Francesa e o Brasil. No sul do país, a
Espanha concordava em devolver a Colônia do Sacramento para Portugal.
- Tratado de Madri (1750): Definição da fronteira sul: Portugal entregou a Colônia do
Sacramento à Espanha, em troca recebeu a de Sete Povos das Missões.
- Tratado de Santo Ildefonso (1777): A Espanha se comprometia a devolver
para Portugal a ilha de Santa Catarina e boa parte do território do atual Rio
Grande do Sul. Ficava porém com a Colônia do Sacramento e a região dos Sete
Povos das Missões.
- Tratado de El Pardo (1761): Anulou todas as demarcações do Tratado
de Madri.
- Tratado de Badajós (1801): Retomou à situação já existente antes do Tratado de Madri - os Sete Povos das Missões ficaram com Portugal e a Colônia do Sacramento, mais uma vez, retomou à Espanha.
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