3ºANO (E.M) - HISTÓRIA_AULA 10 - OS CORONÉIS E OS TRABALHADORES


AULA 10 – OS CORONÉIS E OS TRABALHADORES

OS CORONÉIS E OS TRABALHADORES



Com a economia do país sendo retirada especificamente das nossas terras, esses coronéis eram tidos como homens de grande importância, pois eles eram responsáveis por produzir e escoar toda a riqueza econômica nacional, que vinha diretamente da área rural. Por esse motivo, sempre que alguma grande decisão deveria ser tomada, era na área rural, na casa do grande senhor de terras que se davam as reuniões. O coronel tinha uma autoridade que ninguém poderia questionar, e essa autoridade lhe dava autonomia para ter ao seu lado a própria polícia que lhe protegia e lhe respeitava.
Como possuíam milhares de funcionários, eles tinham em suas mãos uma máquina de votos, que quando chegava a época da política era muito bem explorada. Muitos desses trabalhadores eram impedidos de estudar, a maioria dos coronéis não gostavam de ver seus funcionários instruídos, pois isso poderia prejudicar seus interesses. Na época eleitoral aconteciam as ameaças e a troca de votos, instrumentos que esses latifundiários usavam para eleger a si ou seus candidatos. Se alguém ousasse revidar a ordem do coronel quanto a escolha do candidato serviria de exemplo para os outros, sofrendo perseguição e violência. Foi daí que surgiu o termo “voto de cabresto”.


CARACTERÍSTICAS DO CORONELISMO

- Voto de Cabresto: Os coronéis negociavam os votos, se aproveitando de um sistema eleitoral frágil para manipular a escolha de seus candidatos. As regiões controladas pelos coronéis recebiam o título de curral eleitoral.
- Fraude eleitoral: Para obter seus objetivos era comum o desaparecimento de urnas, a alteração de votos ou o uso do conhecido voto fantasma, que era quando os coronéis adquiriam documentos falsificados para que as pessoas pudessem votar várias vezes, usando até nomes de pessoas já falecidas.
- Política do café com leite: No início do século XX São Paulo e Minas eram os estados mais ricos do país. O Primeiro lucrava com o café, e o segundo tinha seu maior lucro na produção de leite e derivados. Os políticos destes dois locais faziam acordos entre si para continuarem a se manter no poder.
- Política dos Governadores: O presidente da república e os governadores dos estados faziam acordos políticos baseados nas trocas de favores, para que desta forma ambos pudessem manter um governo sem nenhuma perturbação. Os governadores que apoiassem o presidente teriam em troca a facilidade na hora de conseguir a liberação de verbas federais.
Quando aconteceu a Revolução de 1930 e Getúlio Vargas chegou à presidência da República, o coronelismo foi perdendo cada vez mais força e deixando de existir em muitas regiões brasileiras. Porém, mesmo nos dias de hoje, depois de passados tantos anos, podemos ver que o coronelismo pode ser facilmente encontrado nos períodos eleitorais, se não com esse nome, mas sim com as atitudes, pois mesmo sendo crime muitos candidatos recorrem a compra de votos para conseguirem chegar ao poder.
CORONELISMO: O CABRESTO ONTEM E HOJE

Mandonismo, imposição, abuso de poder, são características do coronelismo. Esse fenômeno ocorreu no século XIX, na então República Velha. Os coronéis com seus currais eleitorais detinham do poder político de determinada região. Eram homens temidos, grandes latifundiários. Quando a vontade dos coronéis não era atendida, eles impunham a vitória de seus candidatos através de fraudes eleitorais. Em algumas situações até mortos votavam para forjar alguma vitória eleitoral, vê-se que esses coronéis não mediam esforços para conseguir o que queriam. E quanto ao povo restava apenas obedecer e nada mais. A questão é: e hoje ainda existe o coronelismo? Infelizmente a resposta é positiva, mesmo com tantos avanços e conquistas, mesmo o voto sendo exercido de forma direta e secreta o mandonismo ainda tem força na política brasileira.
O fenômeno ocorre com maior frequência em pequenas cidades do interior brasileiro onde a principal fonte de renda é a prefeitura. Ora, um local pouco desenvolvido, onde a economia gira em torno de uma prefeitura o grande “coronel” será o prefeito, que usa dessa força para se beneficiar. Mesmo que o uso da força e da coerção não exista, e sendo o voto secreto, mesmo assim as pessoas sentem-se amarradas e obrigadas a votar em determinado candidato. É por isso que é forte a expressão:“ é quase impossível ganhar de quem está no poder”, os cidadãos que dependem desse emprego vindo da prefeitura, ainda que simpatizem com o candidato da oposição, gostem de suas propostas, não poderão escolher livremente em quem votar, em quem entendem ser o melhor para sua cidade, eles se veem obrigados a votar no prefeito ou no candidato apoiado por ele. Então por que não intitular esses prefeitos de “coronéis do século XXI”?
Não utilizam da força física, mas usam como arma a força psicológica, o medo. O medo de se verem sem o emprego e consequentemente sem renda paralisa as pessoas que preferem votar em quem lhes é imposto do que enfrentar o poder em prol de seus ideais.
Ao lançar essa questão para um senhor que reside em uma pequena cidade no interior do Estado ele me respondeu: “Eu só voto em quem está no poder sim! Vou votar em quem não tem nada para oferecer? E que história é essa de ideal? Meu ideal é sobreviver, alimentar minha família e ter prestígio com o prefeito, senão, quando eu ou meus filhos adoecerem vão ser tratados que nem cachorro no hospital daqui ”. Comecei a entender o que passa de verdade, na prática na cabeça dessas pessoas, eles não se preocupam com a real intenção ou caráter do candidato em que estão votando, esses cidadãos só estão fugindo do sofrimento e da perseguição. Voltei a questioná-lo, falando que o voto é secreto e que isso lhe daria liberdade para escolher o melhor para sua cidade, e ele mais uma vez respondeu: “secreto? (risos) só se for o seu! Porque aqui as coisas não são bem assim não. Eu posso até votar em outro, mas sem ninguém saber, e outra coisa, o prefeito chega aqui com o candidato dele e uns baldes de tinta para pintar a frente da minha casa com os nomes e os números, o que é que eu posso fazer? Se eu disser que não, ele aí achar que sou da oposição, aí já viu... E se eu deixar pronto! O outro candidato nunca vai acreditar que voto nele, o jeito é obedecer ao “homi”. Isso caracteriza o coronelismo que conseguiu sobreviver a tantos anos.
O cidadão que precisa da prefeitura não se preocupa em analisar o caráter do homem em quem está votando, a quem está conferindo poder, ele apenas não quer se prejudicar, não quer sofrer e nem causar perseguição a sua família. Não age conforme sua liberdade, liberdade essa conferida pela Constituição, mas não respeitada pelos poderosos que tudo podem, essa liberdade é suprimida e desaparece se formos analisar o contexto da política onde o coronelismo ainda predomina. O coronelismo apenas se modernizou, os coronéis de hoje se “civilizaram”, eles são formados, alguns com doutorado, pós-graduados, a forma de dominação é outra hoje em dia, o que não deixa nem deixará de ser dominação. A questão gira em torno de um problema: se ser livre é agir conforme a sua total vontade, conforme sua moral e razão, chegará o dia em que todos os homens serão livres para expressar e defender abertamente seus ideais?
Infelizmente temos que admitir, a liberdade de fato só existirá quando nascer e prosperar uma sociedade perfeita, onde os valores, a ética, e a moral, puderem andar de mãos dadas com a política.
Mas como chegar a essa política perfeita? Uma política com moral. Enquanto o egoísmo dominar a mente dos homens e a sede por poder não se despregar do íntimo do ser humano, não sairemos do lugar. O que infelizmente tem força nesse contexto é a política maquiavélica onde “ os fins justificam os meios”.
Valdira Bezerra

Disponível em: http://valdirabezerra.jusbrasil.com.br/artigos/121133891/etica-e-politica-coronelismo-voto-e-cabresto


CORONELISMO E VOTO DE CABRESTO - TEXTO COMPLEMENTAR


 




O sistema político da República Velha estava assentado nas fraudes eleitorais, visto que o voto não era secreto. O exercício da fraude eleitoral ficava à cargo dos "coronéis", grandes latifundiários que controlavam o poder político local. Exercendo um clientelismo político (troca de favores), o grande proprietário controlava toda uma população ("curral eleitoral"), através do voto de cabresto.
O poder dos coronéis teve início ainda no período colonial, que se favoreciam basicamente do sistema de clientela e patronato, no qual eles recebiam a patente de coronel ou mesmo as compravam assumindo assim o posto de oficial da Guarda Nacional e a representação local das autoridades do Império, gozando de privilégios e cargos de confiança.
Com a instalação da República Velha que tem na historiografia tradicional a versão que a "proclamação da República resultou de crises que abalaram o fim do Segundo Reinado e basicamente nas instituições como: Religiosa e Militar, bem como a abolição da escravatura, o coronelismo teve sua atuação incrementada, sobretudo pela manutenção do sistema eleitoral pautado em voto aberto, facilitando, portanto a pressão do líder local em relação ao eleitorado. A formação dos currais eleitorais era de certa forma constituída dentro dos domínios fundiários do coronel, valorizando a formação de grandes potentados, juntamente com o fortalecimento do "voto de cabresto".
A figura do coronel representava ainda a de uma pessoa que aglutinava várias funções sociais, exercidas, sobretudo com a forte influência que tinha sobre seus dependentes bem como os aliados, empregados e capangas.
Dentro da esfera própria de influência, o "coronel" como que resume em sua pessoa, sem substituí-las, importantes instituições sociais. Exerce, por exemplo, uma ampla jurisdição sobre seus dependentes, compondo rixas e desavenças e proferindo, às vezes, verdadeiros arbitramentos, que os interessados respeitam. Também se enfeixam em suas mãos, com ou sem caráter oficial, extensas funções policiais.
Portanto, o líder municipal ocupava sem sobra de dúvidas um lugar de extremo privilégio nos seus domínios de influência, que o tornava um parceiro muito interessante para o desenvolvimento político das grandes oligarquias agrárias, as verdadeiras elites que estavam no poder justamente com o apoio do coronel e que ao longo do século XIX tiveram suas posses agrárias abaladas especificamente pela diminuição e extinção da mão de obra escrava e não obstante o esfacelamento dos preços das monoculturas de café algodão e açúcar, e o fortalecimento de algumas atividades comercias.
O coronel encontra no meio rural o alicerce primordial para alcançar o mais amplo domínio político, pois o homem do campo "tira a sua sobrevivência" essencialmente das terras do coronel, onde vive na mais completa miséria, ignorância e abandono.
A grande massa de trabalhadores tinha na figura do coronel um homem rico e próspero, portanto capaz de em qualquer momento poder ajudá-los, com qualquer tipo de ajuda, seja ela com remédios, empréstimos em dinheiro e até mesmo com proteção contra querelas com famílias rivais, fomentando mais ainda o voto de cabresto, pois: "O lógico é o que presenciamos: no plano político, ele luta com o 'coronel' e pelo 'coronel'.
Uma característica marcante do fenômeno coronelístico tem como base também o patrocino do grande chefe local de todas as custas eleitorais, portanto quanto maior sendo as posses do coronel maior chance ele terá no pleito. As despesas são das mais variadas, pois como já foi citado o meio rural era, sobretudo paupérrimo, configurando assim a total dependência do eleitorado ao seu protetorado, causando uma obediência incondicional ao líder local.
Sem dinheiro e sem interesse direto, o roceiro não faria o menor sacrifício nesse sentido. Documento, transporte, alojamento, refeições, dias de trabalho perdidos, e até roupa, calçado, chapéu para o dia da eleição, tudo é pago pelos mentores políticos empenhados na sua qualificação e comparecimento.
Assim, o poder oligárquico era exercido no nível municipal pelo coronel, no nível estadual pelo governador e, através da política do café com leite, o presidente controlava o nível federal.

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