1ºANO (E.M) - HISTÓRIA_AULA 03 - HISTORIOGRAFIA


HISTORIOGRAFIA


Logo quando começamos a estudar história na escola, ainda muito pequenos, nossos professores costumam nos apresentar a divisão da linha do tempo entre antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.) e a divisão dos períodos históricos, a começar por Pré-História, Idade Antiga, etc., até chegar à contemporaneidade. Além disso, passamos a ter contato com os livros didáticos de história, com filmes que abordam temas históricos, com imagens de documentos históricos e várias outras coisas. Entretanto, quase não se aborda de que forma a história foi feita, isto é, foi escrita, ao longo de todo esse tempo. Raramente se apresenta o tema da historiografia.
O termo historiografia é composto a partir dos termos “história” (que vem do grego e significa pesquisa) e “grafia” (que também vem do grego e significa escrita). Sendo assim, o próprio nome já contém o sentido mais claro da expressão, isto é, “escrita de uma pesquisa” ou “pesquisa que precisa de uma forma escrita, de uma narrativa”. De forma sucinta: uma escrita da história.


A historiografia, ou escrita da história, portanto, permeia toda a história das civilizações desde suas primeiras manifestações. Tanto as civilizações do Médio Oriente, como as que se desenvolveram na Mesopotâmia, quanto as civilização do Extremo Oriente, como a chinesa e a hindu, tiveram escribas (pessoas que dominavam a arte da escrita) que se encarregavam de escrever, além dos rituais religiosos e da contabilidade econômica das antigas cidades, as memórias das tradições que fundaram aquela civilização específica. Nesse processo de escrita da história da Antiguidade, por diversas vezes a história esteve entrelaçada com os mitos ou com a narrativa mitológica. Só com os gregos, como Heródoto e Tucídides, que a história ganhou pela primeira vez uma organização mais sistemática.
Os autores da historiografia grega foram os primeiros a ter consciência de estarem produzindo uma pesquisa com a finalidade de “não deixar os fatos e feitos” de sua época perderem-se no tempo (como defendia Heródoto, considerado o “pai da história”). Como herdeiros culturais dos gregos, grandes historiadores romanos também desenvolveram sua própria historiografia. Foi o caso, por exemplo, de Cícero, Políbio e Tácito. Esse último mencionou em sua obra a presença de Jesus de Nazaré na Palestina – que era uma província do Império Romano na época.
Os judeus e os primeiros cristãos também desenvolveram sua historiografia, como Eusébio de Cesareia, autor da História Eclesiástica, e Flávio Josefo, autor da História Hebraica. Houve também uma historiografia medieval, tanto cristã quanto islâmica, e uma historiografia renascentista, como a produzida por Maquiavel e Guicciardini. Mas só a partir do século XIX que a história passou a ser considerada uma disciplina propriamente “científica”, com métodos próprios e com a peculiaridade de sua escrita, de seu relato.
Hoje a historiografia é discutida em vários sentidos, principalmente no que se refere à visão ideológica dos historiadores. Fala-se muito em tipos de historiografia que se ajustam de acordo com a ideologia ou a nacionalidade. É o caso, por exemplo, da “historiografia marxista”, "historiografia conservadora", "historiografia brasileira" e "historiografia francesa, ou inglesa", entre outras.


CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA HISTORIOGRAFIA

Alguns conceitos são fundamentais para a compreensão da História. Eles são fundamentados de acordo com o processo histórico. Os principais conceitos históricos são: modo de produção, sistema, regime, estrutura e conjuntura

MODO DE PRODUÇÃO: É o modo como os homens se organizam para manter a sua sobrevivência e o modo de vida. O modo de produção é um complexo socioeconômico e cultural, formado por três elementos básicos: forças materiais de produção, relações sociais, sistema de padrões de comportamento. Sendo um grupo de elementos interativos, qualquer mudança pode provocar alterações imediatas em qualquer elemento. 
As forças materiais de produção abrangem os elementos naturais (solo, água e jazidas), e os instrumentos de produção (máquinas e ferramentas). 
Nas sociedades humanas existem as instituições políticas, culturais e religiosas dependem exclusivamente das forças materiais de produção. As relações sociais posicionam o homem conforme a sua função econômica. O sistema de padrões de comportamento colabora para a manutenção do modo de produção. 
Ao priorizar as formas de consciência social, que são relações sociais e sistemas de padrões de comportamento, os historiadores definem os períodos históricos a partir dos elementos sociais do modo de produção, apesar das consequências sejam de mudanças ocorridas nas forças materiais de produção. Sendo assim, a História é exposta por períodos de acordo com os modos de produção. Os modos de produção são: primitivo,asiático, escravista, servil, assalariado e coletivista

SISTEMA: Sistema é uma ligação entre diversos elementos que estão relacionados entre si, sendo que qualquer alteração pode modificar todas as partes. Não há sistemas sem alterações, cada sistema possui um elemento do anterior e do que irá se suceder. 
O Modo de produção está relacionado diretamente com o setor econômico e com a vida social humana, enquanto o sistema, apesar de o modo de produção ser seu elemento principal, compreende todos os aspectos da sociedade humana, como a religião e a organização militar. Toda via, não podemos esquecer que o modo de produção e o sistema estão sempre interligados. Por exemplo: o modo de produção assalariado integra o sistema capitalista. 
Os sistemas são diferenciados de acordo com a organização interna de suas diversas partes, onde cada uma constitui um subsistema. Exemplo: subsistema social. 

REGIME: As regras legais de um subsistema são conhecidas como regime. 
Exemplo
No subsistema econômico podemos encontrar: o regime de trabalho: escravistas, assalariados; o regime de propriedades: coletivas ou privadas; e o regime de trocas: naturais monetárias. 

ESTRUTURA: A estrutura é o principal conceito para a compreensão do processo histórico, pois é através dela que as partes do sistema se articulam, envolvendo desde as inter-relações das partes até as relações das partes com o todo. A estrutura se divide em infraestrutura e superestrutura
A infraestrutura é constituída pelo modo de produção, ou seja, pelas relações econômicas e sociais. A superestrutura corresponde às relações político-jurídicas, culturais e religiosas, que são originadas a partir das relações da infraestrutura. 
Portanto, a infraestrutura e superestrutura estão interligadas, assim qualquer alteração qualitativa que ocorrer na infraestrutura irá repercutir na superestrutura. Contudo, a superestrutura tem tendência de permanecer em estado puro, tornando-se resistente às alterações, gerando um conflito chamado contradições internas do sistema
Sabemos que na estrutura, os fatores sociais e econômicos são determinantes, e causam o rompimento da superestrutura o que faz emergir um novo sistema.  Este rompimento será uma transição se for gradual, e uma revolução se for um rompimento súbito.

CONJUNTURA: Dentro de um sistema, a estrutura permanece inalterável, passando por transformações apenas quando o modo de produção é reorganizado. Porém, a conjuntura pode, eventualmente, atingir a estrutura do sistema. A conjuntura é um conceito, no qual o sistema é submetido, que consiste numa ocasião transitória e periódica.


CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS

De Heródoto, o "pai da História", ao século XX, diversas foram as formas encontradas de pensar e escrever a História. O curto texto que se segue, pretende dar a conhecer os passos fundamentais desse percurso.

De uma forma geral costuma dividir-se a evolução do "Processus" histórico em 3 fases distintas: a fase Pré-científica que engloba as historiografias Grega, Romana, Cristã-medieval e Renascentista, a fase de transição, em que se destacam a historiografia Racionalista ou Iluminista e a historiografia Liberal e Romântica e, finalmente, a fase científica em que temos o Positivismo, o Historicismo, o Materialismo Histórico, no século XIX, e a escola dos "ANNALES" e a História Nova, em pleno século XX.
Como já vimos considera-se que o "Processus" histórico se inicia com os Gregos e de facto é com Heródoto de Halicarnasso que em pleno século V A.C. , se faz pela primeira vez uma tentativa de investigação do passado, eliminando tanto quanto possível, o aspecto mitológico. A história começa a abandonar o estudo das "coisas divinas" e começa a preocupar-se com as "coisas humanas". Heródoto procurou além disso estabelecer uma causalidade entre os fato históricos e os motivos que os determinam, fator de extrema importância se considerarmos que esta forma de atuação, esta perspectiva, não é inata ao pensamento grego. Como afirma Barraclough, esta é uma invenção de Heródoto. Além de Heródoto, a historiografia grega contou com outros personagens importantes de que se destacam Tucídides e Políbio. Se Tucídides é importante pelo rigor que coloca na seleção dos testemunhos e pela imparcialidade que pretende introduzir na narrativa, com Políbio faz-se a transição da tradição historiográfica para os Romanos, destacando-se especialmente de entre estes, Tito Lívio e Tácito. No entanto faltou brilho à historiografia romana e em termos concretos pouco se evoluiu relativamente aos helênicos. Se com Tito Lívio e a sua história de Roma ainda se vislumbra a introdução de algum método na investigação dos fato, com Tácito e a sua perspectiva pedagógica, encontramos um relato eivado de parcialidade e preconceitos. Numa análise geral, podemos afirmar que a historiografia Greco-Romana se caracteriza por um sentido pragmático, didático e principalmente com os Romanos, pelo surgimento de um espírito de exaltação nacional. A História que com Heródoto e Tucídides apresentava um caráter regionalista, passa com os seus seguidores a assumir uma perspectiva universal.
Com o advento da Idade Média a historiografia sofre um retrocesso e passa a apresentar relações teológicas que lhe imprimem um caráter providencialista, apocalíptico e pessimista. Deus passa a estar no centro das preocupações humanas. É o Teocentrismo. A preocupação do historiador passa a ser a justificação da vinda do filho de Deus ao Mundo, e depois desse evento, analisar as suas repercussões.
A chegada do Renascimento introduz grandes alterações na historiografia, tornando-se de novo o Homem o objeto de estudo, Assiste-se a um ressurgimento da herança cultural da Antiguidade Clássica, acompanhado de um desenvolvimento muito sensível das ciências auxiliares da História, como, por exemplo, a Epigrafia, a Arqueologia, a Numismática, etc. É o tempo do Antropocentrismo.
O período que antecede e acompanha a Revolução Francesa vai ser caracterizado por grandes filósofos, tais como Voltaire, Montesquieu e Jean Jacques Rosseau, que irão lançar as bases filosóficas de um novo Mundo. Como é óbvio, isto irá refletir-se no estudo da História e dá-se uma nova orientação do sentido de estudo, atribuindo-se mais importância ao estudo das sociedades do que propriamente das grandes personalidades.
A historiografia Liberal e Romântica que surgiria na sequência do movimento liberal que "invadiu" a Europa em pleno século XIX, irá debruçar-se sobre o Homem, as sociedades e os municípios. É uma História eminentemente regionalista, com grande simpatia pela Idade Média (advento das nacionalidades) e que introduz subjectividade na narrativa. É um período de grande divulgação cultural, há um alargamento de público e os historiadores são, nalguns casos, jornalistas como Thierry e Guizot.
Com Auguste Comte são lançadas as bases do Positivismo que, como diz Colingwood, é a aplicação da filosofia às ciências da Natureza. Institui-se um método que ainda hoje é, na sua essência, utilizado e a fim de contrariar a subjectividade romântica, o papel do historiador passa a traduzir-se na pesquisa dos fato (pesquisa particularmente cuidada) e na sua subsequente organização, fazendo a sua exposição através de uma narrativa tão impessoal quanto possível.
Porque o rigor do Positivismo não seria, segundo alguns historiadores, integralmente aplicável às ciências humanas, assiste-se ao surgimento de um movimento denominado Historicista que passa a dedicar grande atenção à subjectividade e interpretação, embora aproveitando muito do método positivo. A História, que segundo os positivistas não deveria ser interpretada mas redescoberta, passa a constituir um processo pleno de subjectividade. É Ranke, que de alguma forma indica a evolução que se vai seguir, ao dar grande importância ao aspecto econômico na evolução das sociedades. No entanto, tal tendência só vira a concretizar-se com o aparecimento do Materialismo Histórico de Marx e Engels. Estes dois autores defendem que a História constitui, no seu essencial, uma "descrição" da luta de classes que sempre tem oposto explorados e exploradores. A economia passa a constituir um aspecto de capital importância na evolução das sociedades, nomeadamente no que toca à posse dos meios de produção. Marx divide a História em cinco grandes capítulos e introduz a noção de descontinuidade do processo histórico. O Homem passa a ter um papel mais modesto, passando o estudo das massas a ser mais atento. Há um aproveitamento da filosofia Hegeliana (Tese-Antítese-Síntese), defendendo Marx que a realidade não é a concretização do espírito do Homem, como afirmava Hegel, mas sim o "motor" que condiciona o espírito humano. Segundo Barraclough, o contributo do marxismo é fundamental pela nova orientação que é conferida ao processo histórico, orientação que irá culminar com a escola dos "Annales" e a História Nova.

FIQUE ESPERTO:

AS GRANDES TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA
- Ênfase nos acontecimentos políticos: tendência para uma História dos vencedores, das cúpulas dirigentes.
- Ênfase nos aspectos socioeconômicos: valorização do papel das classes populares e de suas lutas. Construção de uma História dos vencidos, das bases populares.
- Visão global das sociedades humanas: evitando o reducionismo economicista, busca elaborar uma História das estruturas ao nível político, social e econômico. Recorre à colaboração das demais ciências sociais.

HISTORIOGRAFIA E TEORIA DA HISTÓRIA
- Conceitos de História: os conceitos de História variam de período para período e entre as várias correntes historiográficas, sendo estas as mais importantes:
- Positivismo: essa corrente visava explicar a História através do estudo dos fatos, datas e personagens históricos considerados importantes durante o período em estudo.
- Marxismo: o marxismo (também chamado de Materialismo Histórico) tenta explicar as mudanças históricas através das condições materiais, modos de produção ou disputa entre classes sociais existentes em determinado período histórico.
- História Nova (Escola dos Annales): para essa corrente historiográfica o estudo da História é o estudo do cotidiano de um povo, do modo como viviam, se organizavam, produziam ou se relacionavam política e socialmente.


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