AULA 14 - ERA VARGAS (1930-1945)
VAMOS RELEMBRAR... REVOLUÇÃO DE 1930
Interpretada
como a revolução que pôs fim ao predomínio das oligarquias no cenário político
brasileiro, a Revolução de 30 contou com uma série de fatores conjunturais que explicam
esse dado histórico. O próprio uso do termo ‘revolução’ como definidor desse
fato, pode, ainda, restringir outras questões vinculadas a esse importante
acontecimento. Em um primeiro momento, podemos avaliar a influência de alguns
fatores internos e externos que explicam o movimento.
No
âmbito internacional, podemos destacar a ascensão de algumas práticas
capitalistas e a própria crise do sistema capitalista. Cada vez mais, a
modernização das economias nacionais, inclusive a brasileira, só era imaginada
com a intervenção de um Estado preocupado em implementar um parque industrial
autônomo e sustentador de sua própria economia. Em contrapartida, o capitalismo
vivia um momento de crise provocado pelo colapso das especulações financeiras
que, inclusive, provocaram o “crash” da Bolsa de Nova Iorque, em 1929.
Apático
a esse conjunto de transformações, os governos oligárquicos preferiam manter a
nação sob um regime econômico agroexportador. Dessa forma, a economia
brasileira sofreu, principalmente nas primeiras décadas do século XX, graves
oscilações em seu desempenho econômico. Em outras palavras, a economia
brasileira só ia bem quando as grandes potências industriais tinham condições
de consumir os produtos agrícolas brasileiros.
Defendendo
essa política conservadora e arcaica, as elites oligárquicas acabaram pagando
um alto preço ao refrear a modernização da economia brasileira. De um lado, as
camadas populares sofriam, cada vez mais, o impacto de governos que não criavam
efetivas políticas sociais e, ao mesmo tempo, não dava atenção aos setores
sociais emergentes (militares, classes média e operária). Por outro, as
próprias oligarquias não conseguiam manter uma posição política homogênea
mediante uma economia incerta e oscilante.
FATOS QUE MARCARAM O PROCESSO DA REVOLUÇÃO DE 30
Nesse
contexto, podemos compreender que a crise das oligarquias foi um passo crucial
para a revolução. Com o impacto da crise de 1929, o então presidente paulista
Washington Luís resolveu apoiar a candidatura de seu conterrâneo Júlio Prestes.
Conhecida como “Política do Café Puro”, a candidatura de Júlio Prestes rompeu
com o antigo arranjo da “Política do Café com Leite”, em que os latifundiários
mineiros e paulistas se alternariam no mandato presidencial.
Insatisfeitos
com tal medida, um grupo de oligarquias dissidentes – principalmente de Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba – criaram uma chapa eleitoral contra a
candidatura de Júlio Prestes. Conhecida como Aliança Liberal, a chapa
encabeçada pelo fazendeiro gaúcho Getúlio Dorneles Vargas prometia um conjunto
de medidas reformistas. Entre outros pontos, os liberais defendiam a
instituição do voto secreto, o estabelecimento de uma legislação trabalhista e
o desenvolvimento da indústria nacional.
O DESFECHO DA REVOLUÇÃO DE 30
Sob
um clima de desconfiança e tensão, o candidato Júlio Prestes foi considerado
vencedor das eleições daquele ano. Mesmo com a derrota dos liberais, um
possível golpe armado ainda era cogitado. Com o assassinato do liberal João
Pessoa, em 26 de julho de 1930, o movimento oposicionista articulou a derrubada
do governo oligárquico com o auxílio de setores militares.
Depois
de controlar os focos de resistência nos estados, Getúlio Vargas e seus aliados
chegam ao Rio de Janeiro, em novembro de 1930. Iniciando a chamada Era Vargas,
Getúlio ficaria por quinze anos ininterruptos no poder (1930 – 1945) e, logo
depois, seria eleito pelo voto popular voltando à presidência entre os anos de
1951 e 1954.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
A ERA VARGAS: POLÍTICA, ECONOMIA E SOCIEDADE
Ao assumir o poder em 1930, Getúlio Vargas suspendeu a Constituição em vigor, fechou o Congresso Nacional, as assembleias estaduais e municipais e nomeou pessoas de sua confiança para o Governo dos estados, os chamados interventores, em geral tenentes. Criou ainda dois ministérios: o da Educação e Saúde Pública e o do Trabalho, Indústria e Comércio. Patrocinou uma política que diminuísse os efeitos da crise mundial de 1929 sobre o setor agrícola de exportação. O Estado passou a comprar o estoque excedente de café e a destruí-lo, buscando controlar a oferta e garantir o preço do produto no mercado internacional. Além disso, criou órgãos de proteção a outros gêneros agrícolas, como o cacau, pinho, mate, álcool e outros.
Revolução Constitucionalista de 1932
Perdendo
o controle absoluto do poder político que desfrutara durante a República Velha,
a oligarquia cafeeira, contudo, buscava meios para recuperar a antiga posição.
Concentrados em sua maioria no estado de São Paulo, os cafeicultores chegaram a
contar com o apoio da burguesia industrial paulista, reunida em torno do ideal
da elaboração de uma nova Constituição.
As
tensões entre paulistas e Governo Federal aumentaram quando da nomeação de
João Alberto de Lins Barros, tenente pernambucano, para o cargo de interventor
de São Paulo. Em 1932, da união entre o Partido Republicano Paulista
(representante da oligarquia cafeeira) e o Partido Democrático, surgiu a Frente
Única Paulista.
Exercendo
séria pressão sobre o Governo, a FUP conseguiu a nomeação de um novo
interventor civil e paulista, Pedro de Toledo. A partir daí, intensificaram-se
as manifestações em favor da elaboração de uma nova Carta Constitucional. Em
uma das manifestações morreram quatro estudantes: Miragaia, Martins, Dráuzio e
Camargo, cujas iniciais formaram a sigla MMDC, símbolo da luta dos paulistas
pela Constituição.
A
9 de julho de 1932, iniciou-se um movimento armado que visava a depor o
presidente Vargas. Mais de duzentos mil homens aliaram-se ao "Exército
Constitucionalista" e algumas indústrias foram adaptadas para a produção
de equipamentos de guerra. A Revolução estendeu-se por três meses e terminou
com a derrota das forças paulistas.
Apesar da vitória sobre os paulistas, Vargas adotou uma atitude conciliatória, convocando eleições para a escolha dos deputados que comporiam a Assembleia Constituinte para maio de 1933. Assim, a Revolução Constitucionalista, mesmo derrotada militarmente, atingiu seu objetivo: a elaboração de uma nova Constituição para o País.
Governo Constitucional
Vargas,
no entanto, não abandonara suas pretensões centralizadoras. Alinhado com as
tendências políticas emergentes na Europa, o Presidente tendia ao totalitarismo,
a exemplo de Mussolini, na Itália, e Hitler, na Alemanha. Tais regimes
políticos de caráter ditatorial e militarista, receberam o nome de nazifascismo.
A Ação
Integralista Brasileira, partindo de inspiração fascista, apoiada por
grandes proprietários, empresários, elementos da classe média e oficiais das
Forças Armadas, surgiu em meio a esse contexto. Seus defensores pregavam a
criação, no Brasil, de um Estado integral, isto é, de uma ditadura nacionalista
com um único partido no poder. Seu líder, Plínio Salgado, tinha por lema
"Deus, Pátria e Família" e representava os radicais defensores da
propriedade privada, pregando a luta contra o avanço comunista.
Nesse
período, opondo-se frontalmente aos integralistas, constituiu-se uma aliança de
esquerda, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), liderada pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Além
de comunistas, a ANL agregava também socialistas e liberais democratas, em
geral membros da classe média, operários e elementos das Forças Armadas. Pregavam
a reforma agrária, o estabelecimento de um governo popular-democrático, a
nacionalização de empresas estrangeiras e o cancelamento da dívida externa.
A
ANL cresceu rapidamente em todo o País, frente ao avanço da economia
urbano-industrial e à crescente ameaça ditatorial fascista. Apesar de sua
popularidade, em julho de 1935, o governo de Getúlio Vargas declarou-se ilegal
com base na Lei de Segurança Nacional.
O
fechamento das sedes aliancistas e a prisão de alguns de seus membros
motivaram um levante, liderado pelos comunistas, em novembro de 1935. A chamada
Intentona Comunista, desencadeada em Natal, Recife e Rio de Janeiro, foi
rapidamente sufocada pelo Governo Federal.
A
Intentona foi, porém, utilizada pelo Governo como pretexto para a decretação do
estado de sítio, mantido durante os anos de 1936 e 1937, o que garantiu plenos
poderes ao Presidente no combate às agitações políticas.
Governo Ditatorial
- Estado Novo
O
mandato de Getúlio terminaria 1937, assim, teve início a campanha eleitoral
para a sucessão do Presidente, para a qual se apresentaram três candidatos:
Armando Sales Oliveira, pela ANL; José Américo de Almeida, aparentemente
apoiado pelo Presidente; e o líder integralista Plínio Salgado.
Getúlio,
todavia, não pretendia deixar a Presidência e, juntamente com dois chefes
militares, generais Eurico Gaspar Dutra e Góis Monteiro, arquitetou um golpe de
Estado. A intenção do Presidente era conseguir o apoio de setores sociais
temerosos com o avanço da esquerda.
Para
isso, fez-se circular uma história segundo a qual os comunistas planejavam
tomar o poder, assassinar as principais lideranças políticas do País, incendiar
as Igrejas, desrespeitar lares etc. O plano, que vinha assinado por um
desconhecido chamado Cohen, era, na verdade, uma farsa: o Plano Cohen fora
forjado por alguns militares integralistas, desejosos da instalação de um
regime ditatorial de direita.
A
suposta ameaça comunista garantiu a prorrogação do estado de sítio. Muitos
opositores foram presos e a imprensa sofreu violenta censura. O êxito do plano
de Vargas completou-se em novembro de 1937, quando, usando a Polícia Militar,
determinou o fechamento do Congresso Nacional, suspendeu a realização das
eleições presidenciais, extinguiu os partidos políticos e outorgou uma nova
Constituição. Inaugurava-se o Estado Novo.
A
Constituição, outorgada imediatamente após o golpe, havia sido elaborada por
Francisco Campos e inspirada na Constituição fascista da Polônia, chamada por
isso de "Polaca". Nela, o poder político concentrava-se completamente
nas mãos do Presidente da República, a " autoridade suprema do
Estado", subordinando o Legislativo e o Judiciário.
A
ditadura de Vargas apoiava-se, ainda, no controle sobre a imprensa. Para isso,
criou-se o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), encarregado da censura
dos meios de comunicação, além da divulgação de uma imagem positiva do Estado
Novo, influenciando a opinião pública. Nesse período começou a ser transmitido,
por rede de rádio, o programa "Hora do Brasil".
Para
controlar o aparelho de Estado, foi criado o Departamento Administrativo do
Serviço Público (DASP), o qual assumiu o comando sobre a administração e o
serviço público. No nível estadual, Vargas impunha os interventores e proibia
a utilização de bandeiras, hinos e outros símbolos que não fossem nacionais.
Contra
os opositores do regime, ampliou os poderes das polícias estaduais,
especialmente da polícia política, comandada por Felinto Müller. Ocorreram
muitas prisões e maus-tratos, sendo as torturas constantes.
No
plano trabalhista, Vargas estabeleceu um rígido controle sobre os sindicatos,
submetendo-os ao Ministério do Trabalho e impondo-lhes lideranças fiéis ao
regime. Manteve ainda sua política paternalista, concedendo novos benefícios
trabalhistas, como salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Com a extinção dos
partidos políticos, os integralistas romperam com Vargas, tentando um golpe de
Estado em 1938, atacando o Palácio do Catete, a sede governamental. Um golpe
frustrado.
Durante
o Governo Vargas, a economia brasileira modernizou-se e diversificou-se. Na
agricultura, o Governo obteve êxito na aplicação da política de valorização do
café, com a queima dos excedentes e fixação de taxas de exportação. Em outros
setores da agricultura, o incentivo governamental propiciou o aumento da
produção e a diversificação dos cultivos.
A
indústria teve um impulso considerável, especialmente a partir de 1940. De um
lado, o início da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) dificultava as
importações, incentivando mais uma vez o processo de substituição dos produtos
importados por nacionais. Por outro, o intenso apoio governamental estimulava
a implantação de novas fábricas, a ampliação das já existentes e a montagem da
indústria de base, como a Companhia Siderúrgica Nacional.
Visando
a obtenção de matéria-prima para a indústria pesada, Vargas criou a Companhia
Vale do Rio Doce. Surgiram, assim, grandes empresas estatais que garantiriam o
suprimento de produtos indispensáveis ao desenvolvimento das demais
indústrias.
Preocupado
ainda com o fornecimento de energia que movimentasse o parque industrial
brasileiro, o Governo criou o Conselho Nacional do Petróleo. O órgão deveria
controlar a exploração e o fornecimento desse produto e seus derivados.
Fim do Estado Novo
Quando
teve início a Segunda Guerra Mundial, em 1939, o governo brasileiro adotou uma
posição de neutralidade. Não manifestou apoio nem aos Aliados (Inglaterra,
Estados Unidos, França e União Soviética), nem aos países do Eixo (Alemanha,
Itália e Japão). Essa posição garantiu ao Brasil vantagens comerciais e a
obtenção de empréstimos junto aos países beligerantes.
Obtendo
maiores vantagens econômicas junto aos aliados (EUA), pois com eles conseguiu o
capital para a construção da Usina de Volta Redonda, Vargas viu-se pressionado
a apoiar as potências aliadas e, em janeiro de 1942, rompeu relações com os
países do Eixo.
A
participação do Brasil na luta contra os regimes ditatoriais europeus criou uma
contradição interna, o que acabou por enfraquecer as bases do Estado Novo. O
Brasil lutava contra as ditaduras nazifascistas, pela liberdade, enquanto
mantinha um regime ditatorial. A oposição à ditadura de Vargas ganhou espaço,
sendo realizadas diversas manifestações pela redemocratização do País.
Sem
saída, Vargas foi restabelecendo a democracia no País. Marcou a realização de
eleições gerais para 2 de dezembro de 1945. Permitiu abertura política, assim
surgiram novos partidos políticos para a disputa eleitoral, entre os quais se
destacavam:
- UDN (União Democrática Nacional), que lançou a candidatura de Eduardo Gomes para a presidência;
- PSD
(Partido Social Democrático) que coligado ao PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro) lançaram a candidatura de Eurico Gaspar Dutra, apoiados por
Getúlio Vargas;
- PCB
(Partido Comunista Brasileiro), tinha como candidato Yedo Fiúza.
O fim da Segunda Guerra dividiu o movimento de oposição ao Governo: enquanto alguns, especialmente udenistas, desejavam a deposição imediata de Vargas, outros acreditavam que a transição para a democracia deveria ser gradual, tendo Vargas à frente. Essa facção liderou um movimento popular que recebeu o nome de Queremismo, pois, em suas manifestações, gritava-se: "queremos Getúlio".
A
29 de outubro de 1945, porém, as Forças Armadas obrigaram Getúlio a renunciar à
presidência. Em seu lugar assumiu o ministro do Supremo Tribunal Eleitoral José
Linhares, que garantiu a realização das eleições na data prevista, as quais
foram vencidas por Eurico Gaspar Dutra.
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