A REVOLUÇÃO DE 1930 E O FIM DA REPÚBLICA VELHA
A partir da década de 1920, começaram a surgir no
cenário nacional alguns fatores sociais e políticos que contribuíram
decisivamente para o declínio e derrocada da República Velha. O agravamento da
crise econômica, a eclosão de revoltas e levantes militares, o crescimento das
camadas sociais urbanas, além do acirramento dos conflitos políticos devido à
progressiva divisão das oligarquias dominantes formam o conjunto de fatores que
provocaram a Revolução de 1930.
A expansão da indústria fez surgir a burguesia
industrial, a classe média e o operariado. Nas regiões Sul e Sudeste do país,
onde essas transformações foram mais intensas, o surgimento e o crescimento
desses novos grupos e classes sociais colocaram em xeque o domínio político
exclusivo das oligarquias agrárias.
CAMADAS SOCIAIS URBANAS
As camadas sociais urbanas, principalmente a
burguesia, passaram a reivindicar participação nas decisões governamentais e
reformas das instituições políticas. Surgem então exigências de mudanças no
sistema eleitoral de modo a acabar com a fraude, a corrupção e o coronelismo.
Passam a pressionar também por mudanças na política econômica reivindicando
maior investimento e incentivo público ao setor industrial e o fim da política
de apoio exclusivo ao café.
Por outro lado, o operariado crescerá em número e
em organização provocando o surgimento de sindicatos trabalhistas. Os
sindicatos trabalhistas lutarão contra as longas jornadas de trabalho, os
baixos salários, as condições degradantes do ambiente fabril e a vigilância e
repressão policial.
Para as elites dominantes, as reivindicações
trabalhistas eram tratadas como "caso de polícia". Mas a constante
repressão policial contra os trabalhadores não impediu, porém, a eclosão de
greves por todo o país. As pressões e reivindicações crescentes do operariado
urbano apontou para necessidade de uma política de caráter governamental de
ampliação e proteção dos direitos dos trabalhadores que assegurassem condições
dignas de trabalho e remuneração.
A CRISE DE 1929
Em 1929 a economia mundial é abalada por uma forte
crise provocada pela falência da bolsa de valores de Nova York. A crise de 1929
atingiu duramente os Estados Unidos e os países europeus. Sendo ainda um país
predominantemente agrário, exportador de produtos primários, principalmente o
café, e dependente dos mercados e empréstimos externos, a crise de 1929 atingiu
duramente a economia do Brasil.
Nesse contexto, os mercados consumidores encolheram
drasticamente. Diante da crise, os cafeicultores recorreram, como de costume,
ao apoio do governo federal que, porém, foi incapaz de dar continuidade à
política de proteção ao setor.
Por esse motivo, a crise de 1929 também foi um
importante fator a contribuir para o enfraquecimento político das oligarquias
cafeeiras e, além disso deixou claro para as elites dominantes a inviabilidade
e os limites do modelo de economia agroexportadora.
AS OLIGARQUIAS DISSIDENTES
A Política dos Governadores firmada no governo do
presidente Campos Salles (1898-1902) consistiu num acordo tácito entre
as oligarquias cafeeiras paulista e mineira com objetivo de estabelecer a
hegemonia na política nacional em defesa dos seus interesses. Por meio de
acordos entre o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano
Mineiro (PRM), os dois estados indicavam um nome de consenso como candidato ao
governo federal e elegeram praticamente todos os presidentes da República.
A aliança entre São Paulo e Minas Gerais ficou
conhecida como a política do "café-com-leite". Contra a
hegemonia política paulista e mineira insurgiram as oligarquias das Regiões Sul
e Nordeste. No final da década de 1920 as pressões e conspirações das oligarquias
dissidentes ampliaram-se. Mas foi o rompimento da aliança entre São Paulo e
Minas Gerais que provocou o movimento revolucionário que determinou o fim da República
Velha.
O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
Na sucessão presidencial de 1930, São Paulo e Minas
Gerais discordaram sobre o nome do candidato que disputaria o pleito. O
presidente Washington Luiz apoiou a candidatura do paulista Júlio Prestes,
ao invés de apoiar a candidatura do mineiro Antônio Carlos.
Essa atitude levou Minas Gerais a romper com a
aliança com os paulistas e a apoiar as oligarquias de outros estados: do Rio
Grande do Sul e da Paraíba. Desse modo, esses três estados formaram um grupo
político de oposição chamado Aliança Liberal.
Nas eleições de 1930 a Aliança Liberal apresentou
como candidato a presidente o gaúcho Getúlio Vargas e o paraibano João
Pessoa para vice-presidente. Foram derrotados pelo candidato do governo,
Júlio Prestes. Mas, Júlio Prestes não chegou a tomar posse, porque meses depois
das eleições eclodiu a revolução que colocou Getúlio Vargas no poder.
ASSASSINATO DE JOÃO PESSOA
Em julho de 1930, João Pessoa foi assassinado
pelo advogado João Dantas (1888-1930) em Recife. Acredita-se que o crime tenha
ocorrido por razões pessoais e ligadas à política paraibana, mas a morte do
candidato a vice-presidente transformou-se numa questão nacional. A indignação
toma conta do país e mesmo sem apoio, o presidente Washington Luís não
pretendia renunciar ao poder.
Notícia da morte de João Pessoa do Jornal do
Brasil, em 27 de julho de 1930
Uma junta militar transmitiu o governo a Getúlio
Vargas, líder máximo da Revolução. Vargas governou o Brasil de 1930 a 1945. Seu
governo atravesso uma fase provisória, uma fase constitucional e depois se
transformou numa ditadura que promoveu muitas mudanças na economia e a
modernização das instituições políticas.
REVOLUÇÃO OU GOLPE?
A Revolução de 1930 foi chamada desta maneira pelos seus membros. No
entanto, trata-se de um golpe de estado e não uma revolução. Uma revolução
possui amplo apoio popular, propõe e causa drásticas mudanças quando instalada
no poder.
Já o golpe de Estado, é a retirada do poder por meio da violência de um
político constitucionalmente eleito ou consagrado para aquele cargo.
Os acontecimentos de 30 foram uma luta pelo poder entre as elites, com
margem de vitória a qualquer uma delas e que pouco mudariam a estrutura social
brasileira em profundidade.
CURIOSIDADES
- Washington Luís só retornaria ao Brasil em
1947. Por sua vez, Júlio Prestes pediu asilo ao consulado britânico e voltaria
em 1934.
- Três ex-ministros de Getúlio Vargas e três
tenentes de 1930 chegaram à Presidência da República: Eurico Gaspar Dutra, João
Goulart e Tancredo Neves (ministros); Castelo Branco, Emílio Médici e Ernesto
Geisel (militares).
- Getúlio teve quase 100% dos votos no Rio
Grande do Sul durante a eleição de 30.
Juliana Bezerra –
Professora de História
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