AULA 01 - CRISE DO ANTIGO
REGIME EUROPEU
INTRODUÇÃO
O século XV inaugurava um novo período do processo histórico
da Europa ocidental: possuir terras já não era mais sinônimo seguro de poder;
as relações sociais de dominação não eram as mesmas do mundo feudal; mudanças
qualitativas na economia europeia abriam espaço para uma nova ordem política e
social.
Tendo suas origens no feudalismo, o mundo moderno
evoluiria até culminar no seu oposto - o capitalismo do mundo
contemporâneo. Assim, em muitos aspectos, o mundo moderno constitui uma negação
do mundo medieval, embora ainda não se caracterizasse como um todo sólido,
maduro, apresentando-se como uma época de transição. Foi o período de
consolidação dos ideais de progresso e de desenvolvimento, que reforçou o
pensamento racionalista e individualista, valores burgueses que iriam demolir o
universo ideológico católico-feudal.
Entre os séculos XV e XVIII, estruturou-se uma
ordem socioeconômica, denominada capitalismo comercial. Durante
esse período, a nobreza, cuja posição social era ainda garantida por suas
propriedades rurais e títulos - mas não raro enfrentava dificuldades
financeiras -, passou a buscar ansiosamente meios para se impor segundo os
novos padrões econômicos.
Por seu lado, a burguesia, mesmo prosperando nos
negócios, estava longe de ser a classe social dominante, com prestígio junto à
aristocracia. Como desejasse exercer a supremacia de que se julgava merecedora
por seu poder econômico, frequentemente incorreu no paradoxo de assistir
valores decadentes, como a compra de títulos de nobreza. Apenas no final da
Idade Moderna, a classe burguesa reuniu meios para edificar uma ordem social,
política e econômica à sua própria imagem, embora somente os acontecimentos da
segunda metade do século XVIII, como a Revolução Industrial, a independência
dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, consolidassem definitivamente a
posição da burguesia, inaugurando a Idade Contemporânea.
Assim, sendo um período de transição, a Idade
Moderna reforçou a importância do comércio e da capitalização, que constituíram
a base sobre a qual se desenvolveria o sistema capitalista. Como decorrência,
um novo Estado, novas normas e novos valores foram gerados segundo as novas
exigências do homem ocidental.
ANTIGO REGIME
- O Antigo Regime pode ser definido como um sistema de governo que
vigorou na Europa, principalmente, entre os séculos XVI e XVIII.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
- Absolutismo: Forma de governo totalmente concentrada na
figura do rei. Este exercia seu poder sem utilizar os métodos democráticos,
impondo sua própria vontade na elaboração e aplicação das leis. Grande parte
dos recursos arrecadados com impostos era
utilizado para manter os gastos e o luxo da corte.
- Mercantilismo: O estado tinha como objetivos a obtenção de
metais precisos (para fabricação de moedas), manutenção da balança comercial favorável, protecionismo alfandegário, acúmulo de riquezas nas mãos dos reis e ênfase no
comércio marítimo.
ECONOMIA E
SOCIEDADE DO ANTIGO REGIME
Idade Média, processou-se um computo de alterações
socioeconômicas, decorrente do renascimento do comércio, da urbanização e do surgimento
da burguesia. A junção desses elementos, por sua vez, impulsionou o processo de
formação do Estado nacional, e lentamente foram sendo demolidos os pilares que
sustentavam o feudalismo.
Cada vez mais ganhavam terreno a economia de
mercado, as trocas monetárias, a preocupação com o lucro e a vida urbana.
Assim, se por um lado o mundo medieval encerrou em meio à crise (guerras,
pestes), por outro, com o início da expansão marítima e declínio do feudalismo,
afirmou-se uma nova tendência: o capitalismo comercial.
O ressurgimento do comércio na Europa e a
exploração colonial do Novo Mundo americano e afro-asiático propiciaram a
ascensão vertiginosa da economia mercantil. No meio rural europeu, as relações
produtivas variavam desde as feudais (senhor-servo) até as que envolviam o
trabalho assalariado (proprietário-camponês), prenunciando o que viria a ser um
regime de características capitalistas. A exploração do trabalhador e a
expropriação de suas terras possibilitaram uma gradativa e crescente ampliação
de riquezas nas mãos dos donos das terras e dos meios de produção - a chamada
acumulação primitiva de capitais.
A Sociedade do Antigo Regime caracteriza-se por
ser fortemente hierarquizada e estratificada em ordens. Esta divisão
organiza-se de acordo com o prestígio, poder ou riqueza de cada grupo. A
categoria social é definida pelo nascimento e pelas funções sociais
desempenhadas.
As três ordens são o Clero, Nobreza e
Povo/Terceiro Estado, subdivididos em subcategorias. O Clero gozava de
imunidades e privilégios, cobrava o dízimo e desempenhava altos cargos. A
Nobreza era a ordem de maior prestígio e destacava-se pelo grande poder
fundiário, pela função militar e pelos altos cargos administrativos que
desempenhava. Podemos distinguir a nobreza de sangue ou espada e a nobreza de
toga. O Terceiro Estado é a ordem não privilegiada, tributária e muito
heterogênea, cujas diferenças residem na atividade profissional e modo de vida.
Neste contexto salienta-se a burguesia (mercadores, financeiros, letrados) e camponeses.
A sociedade de ordens é uma sociedade de
símbolos, cuja distinção se faz pelos trajes, tratamento e forma de saudação
(Sua Eminência, Vossa Mercê, etc.). Apesar desta estrutura verifica-se uma
mobilidade social, que conduziu à ascensão da burguesia, que eleva a sua
dignidade pela postura no trabalho e mérito pessoal.
ACUMULAÇÃO
PRIMITIVA DE CAPITAIS
A primeira etapa da acumulação capitalista é
comumente chamada de acumulação primitiva. Realizada inicialmente por meio da
transformação das relações de produção e surgimento do trabalho assalariado e
concentração dos meios de produção - nas mãos de poucos, seguidos da expansão
capitalista -, "a acumulação primitiva é apenas o processo histórico que
dissocia o trabalhador dos meios de produção. É considerada primitiva porque
constitui a pré-história do capital e do modo de produção capitalista
[...] Marcam época, na história da acumulação primitiva, todas as transformações que servem de alavanca à classe capitalista em formação sobretudo aqueles deslocamentos de grandes massas humanas, súbita e violentamente privadas de seus meios de subsistência e lançada no mercado de trabalho como levas de proletariados destituídos de direitos. A expropriação do produtor rural, do camponês que fica assim privado de suas terras, constitui a base de todo processo" MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971. v. 2. p. 830-1.
[...] Marcam época, na história da acumulação primitiva, todas as transformações que servem de alavanca à classe capitalista em formação sobretudo aqueles deslocamentos de grandes massas humanas, súbita e violentamente privadas de seus meios de subsistência e lançada no mercado de trabalho como levas de proletariados destituídos de direitos. A expropriação do produtor rural, do camponês que fica assim privado de suas terras, constitui a base de todo processo" MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971. v. 2. p. 830-1.
O capitalismo comercial evoluiu, assim, para uma
crescente separação entre capital e trabalho. Mais e
mais a burguesia acumulou patrimônio e moeda, capitalizando-se, enquanto os
trabalhadores foram sendo limitados à condição de assalariados, donos
unicamente da sua força de trabalho. A burguesia foi, então, se preparando para
o completo controle dos meios de produção, o que se consolidaria
definitivamente com a Revolução Industrial.
Visando adequar o meio rural ao capitalismo
comercial e reorganizar a produção mais eficientemente, os proprietários
lançaram mão de diversos recursos. Um exemplo foram os cercamentos na
Inglaterra: com o desvio do uso da terra para a criação de ovelhas - tarefa que
requeria pouca mão de obra e destinava-se à produção de lã exportada para
Flandres - formou-se enorme contingente servil sem colocação no campo. Sem
opções, essa massa se dirigiu para as cidades, onde se tornou mão de obra
disponível, mais tarde empregada na colonização da América inglesa e,
principalmente, nas unidades fabris durante a Revolução Industrial.
Nas cidades, as relações produtivas também eram
mescladas: o artesanato, praticado em oficinas, nas quais o mestre
artesão e os artesãos auxiliares eram produtores e donos dos meios de produção,
e as manufaturas, em que se processavam relações de cunho
capitalista através da concentração dos meios de produção (fábricas e
instrumentos) nas mãos do empresário e do pagamento de um salário em troca da
força de trabalho do empregado.
Dessa forma, a sociedade do período moderno,
comumente chamada de sociedade de ordens (clero, nobreza e povo),
apresentava-se, na prática, dividida em uma classe de proprietários de terras
(clero e nobreza), uma classe de trabalhadores (servos, camponeses livres,
assalariados, enfim, a massa popular) e uma classe burguesa (mercantil e
manufatureira). A Idade Moderna conheceu, então, a luta da burguesia pelo
espaço social, político e ideológico.
O ESTADO NO
ANTIGO REGIME
O Estado moderno retratou a transição do período,
refletindo os interesses dos grupos sociais em conflito, ao preservar os
privilégios da aristocracia feudal e abrir espaço ao novo grupo burguês
ascendente. Na prática, foi o resultado da derrocada do poder universal
(Igreja) e o local (nobreza) e da formação de monarquias nacionais.
O Estado característico da época moderna é
conhecido como absolutista, na medida em que o poder estava
concentrado nas mãos do rei e de seus ministros, os quais aproveitavam as
limitações dos grupos sociais dominantes - nobreza e burguesia - para
monopolizar a vida política. Incapazes de exercer hegemonia (a nobreza estava
em decadência e a burguesia ainda se mostrava frágil), esses grupos precisavam
do Estado para preservar suas condições e privilégios; daí sujeitarem-se ao
rei, reforçando o poder do Estado moderno.
De seu lado, o Estado absolutista dependia de
impostos e recursos gerados pelas atividades comerciais e manufatureiras, sendo
o progresso e o desenvolvimento das atividades mercantis fatores importantes
para a sua sobrevivência e opulência. Por esses motivos, esse Estado mantinha
em cargos do governo, além dos tradicionais elementos da aristocracia feudal,
representantes da burguesia. Por isso, também, foi dinâmico na geração de bens
e no incremento das finanças nacionais, incentivando o lucro, a expansão do
mercado e a exploração das colônias.
Por outro lado, em virtude da extensão de sua
burocracia aristocrática, procurou garantir sua sobrevivência através da
tributação desenfreada, assumindo mais e mais o caráter parasitário, fundado
nos privilégios feudais. Essa característica limitadora do capitalismo e do
desenvolvimento econômico burguês possibilitaria o surgimento e avanço das
ideias liberais, que levaram posteriormente às revoluções burguesas que
demoliram o Estado absolutista.
Devido à preponderância, nesse período, do
absolutismo - poder capaz de definir regras, práticas e ações em todos os
níveis -, consolidou-se a concepção de um Estado interventor, que
devia atuar em todos os setores da vida nacional. No plano econômico, essa
intervenção manifestou-se através do mercantilismo.
O
MERCANTILISMO
Evidenciando a íntima relação entre estado e
economia, o mercantilismo caracterizou-se por ser uma política de controle e
incentivo, por meio da qual o Estado buscava garantir o seu desenvolvimento
comercial e financeiro, fortalecendo ao mesmo tempo o próprio poder. Não chegou
a constituir uma doutrina, um sistema de ideias, um conjunto coerente de
práticas e ações; foi, na verdade, um conjunto de medidas variadas, adotadas
por vários Estados modernos, visando à obtenção dos recursos e riquezas
necessários à manutenção do poder absoluto. Cada estado procurou as medidas que
mais se ajustavam às suas peculiaridades: alguns concentravam-se na exploração
colonial, na obtenção de metais preciosos; outros, nas atividades marítimas e
comerciais; e outros, ainda, optaram por incentivar a produção manufatureira.
Entretanto, apesar das variações de Estado para
Estado e de época para época, houve uma série de princípios comuns que
orientaram a política mercantilista. Um deles foi o metal ismo - concepção que
identifica a riqueza e o poder de um Estado a quantidade de metais preciosos
por ele acumulados. A obtenção de ouro e prata viabilizou-se com a exploração
direta das colônias ou com a intensificação do comércio externo. Em ambos os
casos, buscava-se manter o nível das exportações superior ao das importações,
ou seja, uma balança comercial favorável.
Neste quadro, o Estado restringia as importações
impondo pesadas taxas alfandegárias aos produtos estrangeiros, ou até mesmo
proibindo que certos artigos fossem importados. Essas medidas visavam não
apenas diminuir as importações, mas igualmente proteger a produção nacional da
concorrência estrangeira; por esse motivo, são chamadas de medidas
protecionistas. Para estimular as exportações, vários Estados modernos
procuraram desenvolver políticas de incentivo à produção nacional, tanto nas
metrópoles quanto em suas colônias.
Dessa forma, o mercantilismo quase sempre esteve
ligado ao trinômio metal ismo, balança comercial favorável e protecionismo
Vejamos, a seguir, alguns exemplos de aplicações diversas desses princípios.
Na Espanha, o Estado adotou medidas para a obtenção
de metais, por meio da exploração colonial americana, e para a restrição das
importações, priorizando o metal ismo. Devido a estocagem de lingotes de ouro e
prata (bullion, em inglês), o mercantilismo espanhol recebeu o nome de
bulionismo.
Na França, destacadamente no século XVII, o governo
procurou limitar as importações e, ao mesmo tempo, aumentar o valor das
exportações, estimulando as manufaturas, especialmente aquelas voltadas para a
produção de artigos de luxo, criando ainda diversas companhias de comércio. Em
alusão a seu maior defensor, Colbert, ministro de Luís XIV, o mercantilismo
desenvolvido na França foi chamado de colbertismo. Como essa política econômica
priorizava a industria, o colbertismo era também conhecido como industrialismo.
Na Inglaterra, cuja política mercantilista foi
chamada de comercialista e depois industrialista, o governo favoreceu o
desenvolvimento da frota naval e da marinha mercante, essenciais para a
expansão de seu comércio externo. Paralelamente, incentivou a produção
manufatureira, protegendo-a da concorrência estrangeira por meio de uma rígida
política alfandegária.
O
MERCANTILISMO NO SÉCULO XVI
No final do século XV, e especialmente no século
XVI, os países ibéricos (Portugal e Espanha) comandaram as transformações da
economia européia. Pioneiros no processo de expansão ultramarina, foram
igualmente os primeiros a se beneficiar com as riquezas das terras descobertas.
A exploração de suas colônias foi orientada por políticas mercantilistas
semelhantes, que se traduziam na exploração intensa dos recursos naturais
especialmente no caso da Espanha, cujas colônias eram riquíssimas em metais
preciosos - e na defesa do monopólio de comércio, o chamado exclusivo colonial.
Assim, todos os produtos que chegavam à colônia ou
saiam dela tinham de passar pela metrópole, concretizando sua sujeição absoluta
ao Estado explorador, característica do pacto colonial. Cabia à colônia, além
de consumir os produtos manufaturados pela metrópole, produzir segundo as
exigências da economia mercantilista, garantindo lucros e rendas à Coroa e à
burguesia mercantil.
Devido ao enriquecimento da Espanha pelo acúmulo de
metais preciosos, a concepção metalista predominou no mercantilismo europeu
dessa época. Entretanto, o enorme afluxo de metais preciosos provocou, a longo
prazo, efeitos negativos sobre a economia espanhola ao desestimular as
atividades agrícolas e manufatureiras. Tornando-se cada vez mais dependente de
importações, a Espanha não conseguiu manter ao longo do tempo saldos positivos
em sua balança comercial.
Além disso, a abundancia de ouro e prata,
aumentando o volume monetário, provocou, no século XVI e principalmente no
XVII, uma extraordinária elevação nos preços, que se generalizou por toda a
Europa, favorecendo os Estados produtores, como França, Inglaterra e Holanda e
respectivas burguesias comerciais e manufatureiras, que ampliavam seu processo
de entesouramento e capitalização.
Assim, já no final do século XVII, quem liderava
economicamente a Europa não eram mais os países ibéricos, mas as nações que se
voltaram para o comércio e para a produção como meio de entesouramento.
O
MERCANTILISMO DOS SÉCULOS XVII E XVIII
Ainda no século XVI, França e Inglaterra criaram
medidas protecionistas e subvenções às manufaturas que lhes permitiram assumir,
nos dois séculos seguintes, uma posição de liderança na economia européia,
adotando medidas mercantilistas peculiares.
Na França dos Bourbons, desde os ministros Sully e
Laffémas, de Henrique IV (1589-1610), a Richelieu, de Luís XIII (1610-1643), o
Estado incentivou a produção e o comércio, bem como a construção naval.
Entretanto, foi no reinado de Luís XIV (1661-1715), sob a orientação do
ministro das finanças, Colbert, que a intervenção estatal foi severa e
sistemática. Estimulou-se a produção manufatureira, especialmente de artigos de
luxo (joias, móveis, porcelanas, rendas, sedas, etc.), muitos deles produzidos
pelas manufaturas reais, de propriedade do Estado. Nessa época, a França
tornou-se famosa pela excelente qualidade de seus produtos, conquistando o
mercado externo.
Na Inglaterra, desde os Tudor até os Stuart, o
Estado adotou diversas medidas de proteção ao comércio marítimo, como o
estimulo a construção naval e a criação de leis proibindo que navios
estrangeiros realizassem o transporte de produtos da metrópole e das colônias
inglesas. Dessa forma, além de evitar os enormes gastos com os fretes pagos aos
estrangeiros, impedia-se a evasão de moeda para o exterior, permanecendo todo o
lucro do comércio no país.
Esses Atos de Navegação, como eram
chamados, foram decisivos para o desenvolvimento comercial da Inglaterra, que
assim pôde desbancar seus concorrentes, especialmente os holandeses, que até
então dominavam o transporte marítimo europeu e colonial.
Além de estimular a marinha mercante, o Estado
inglês incentivou a produção e as atividades financeiras, criando também
diversas companhias de comércio. Nascidas de maneira familiar, as empresas
capitalistas lago atraíram investidores, ampliando os negócios e os lucros.
Em 1688 e 1689, a Revolução Gloriosa levou a
implantação da monarquia parlamentar, e as estruturas políticas pró-burguesia
foram definitivamente fortalecidas na Inglaterra, sustentando o desenvolvimento
quase ininterrupto do capitalismo e criando condições para que esse país se
tornasse a maior potência econômica do mundo moderno. Na França, por outro
lado, as instituições políticas transformaram-se num obstáculo à evolução
capitalista, que seria superado apenas no final do século XVIII, com a
Revolução Francesa.
No século XVIII, buscou-se mais do que nunca
complementar a economia metropolitana por meio da exploração desenfreada das
colônias, submetidas ao pacto colonial. Contudo, ao longo desse século,
tornaram-se cada vez mais frequentes as críticas à política intervencionista do
Estado absolutista, tanto na Europa quanto no mundo colonial.
A burguesia ascendente, já senhora da economia, não
mais aceitava um Estado que não satisfizesse seus anseios. Exprimindo repúdio
aos componentes ainda não completamente capitalistas do período, referia-se à
estrutura social, econômica, política e cultural dessa época a divisão da
sociedade em ordens, os privilégios ainda existentes do clero e da nobreza, além
da política mercantilista e de inúmeras obrigações feudais, como o imposto da
talha e da corveia - como Antigo Regime
Na política, o absolutismo, a Corte e o controle de
todas as esferas da sociedade pelo poder real sufocavam o anseio por um mundo
novo, compatível com a vitoriosa ordem capitalista. Surgiam, então, as
condições para a formulação de princípios econômicos antimercantilistas, de
concepções inovadoras como as desenvolvidas pelos adeptos da fisiocracia e
do liberalismo econômico, que iriam sepultar definitivamente o
Antigo Regime.
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